terça-feira, 13 de junho de 2017

Você já viu o que disse Monteiro Lobato sobre o atual momento do país? Veja a brincadeira feita e delicie-se com os ensinamentos do ilustre escritor

O site de notícias jurídicas Migalhas fez, na edição de ontem, uma brincadeira bem legal: uma entrevista (fictícia, por óbvio) com o escritor Monteiro Lobato, citado pelo Min. Gilmar Mendes em seu escabroso voto no TSE na última semana. Incrível como as manifestações de Lobato se fazem atuais. Tirem suas próprias conclusões:
Entrevista onírica

Ao evocar a figura de Monteiro Lobato, resolvemos usar uma pitada do pó de pirlimpimpim e viajar pelo desconhecido. Caímos num apartamento situado na rua Barão de Itapetininga, 93, no centro de SP. O calendário marcava 3 de julho de 1948. Estávamos num sofá elegante, numa ampla sala. Pelas janelas era possível divisar as altas árvores da vizinha praça da República. D. Purezinha, delicada, veio nos trazer o café em bule inglês e disse que o marido já estaria chegando. Afobado, sobraçando alguns livros, eis que surge o inconfundível morador: Monteiro Lobato. Senta-se na poltrona principal e logo diz: - Pois não, meus jovens? Explicamos que estávamos viajando no tempo, e que um ministro (o qual fizemos questão de descrever com detalhes, sem tirar nem pôr) tinha citado trecho de sua obra. Ele, então, depois de achar curioso o nome de nosso rotativo, decide nos dar uma entrevista, a qual segue abaixo, com exclusividade:
Migalhas - No livro citado pelo ministro, a Emília apronta muitas maluquices. Não está muito independente essa boneca de pano?
Monteiro Lobato - "Tão independente que nem eu, seu pai, consigo dominá-la. Quando escrevo um desses livros, ela me entra nos dois dedos que batem as teclas e diz o que quer, não o que eu quero."
Migalhas - E a propósito da fábula mencionada, o que nos diz?
Monteiro Lobato - "A natureza sabe o que faz. Põe frutas grandes no chão e as pequenas em árvores."
Migalhas - Moral da história...
Monteiro Lobato - "Quando reformamos qualquer coisa, aparecem logo muitas consequências que não previmos."
Migalhas - E qual mudança seria bem-vinda?
Monteiro Lobato - "Se os homens fossem do tamanho de pulgas, seriam mais felizes. A desgraça dos homens está no tamanho." 
Migalhas - Podemos pôr mãos à obra, então?
Monteiro Lobato - "Reforma não é brincadeira, precisa ciência."
Migalhas - Pelo que entendemos o problema é o homem, não a natureza?
Monteiro Lobato - "É que a Natureza copia o homem; desdobra-se numa gama inteira. Tem os seus pedaços shakespearianos para o equilíbrio dos seus pedaços acacianos."
Migalhas - Literatura numa hora dessas? 
Monteiro Lobato - "Literatura é cachaça. Vicia. A gente começa com um cálice e acaba pau d'água de cadeia."
Migalhas - Certo, mas não se esqueça que estamos em 2017. Como poderemos mudar o curso da história?
Monteiro Lobato - "A história é muito complicada, não pode ser dita em meia dúzia de palavras." 
Migalhas - Você, com sua imaginação toda, iria acreditar que nosso presidente da República fosse estar nessa situação?
Monteiro Lobato - "Muitas vezes a gente imagina uma pessoa e sai o contrário." 
Migalhas - Põe contrário nisso. E o duro é que ele está com sorte. Sim, pelo menos até agora escapou das garras da Justiça.
Monteiro Lobato - "Evidentemente a Sorte é irmã da Justiça - tem a cegueira das minhocas."
Migalhas - De fato, olvidar as provas e com isso absolver a chapa é surreal. 
Monteiro Lobato - "Não há o que não se consiga quando o processo aplicado é o faz-de-conta."

Epistolário 

As "respostas" de Monteiro Lobato são extraídas, sobretudo, da própria "A Reforma da Natureza". Outros excertos foram pinçados na "Barca de Gleyre", que reúne a correspondência travada com o amigo Godofredo Rangel por 50 anos. Rangel, autor do célebre "Vida Ociosa", contemporâneo de Lobato nas Arcadas do Largo S. Francisco, foi desembargador em MG. Segundo consta, as cartas que ele mandou a Lobato existem, e estão guardadas. Uma pena que a família do saudoso escritor não as enfeixe numa obra para domínio público. Se assim fizesse, contribuiria sobremaneira para a história da literatura 
brasileira.
Fonte: migalhas.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário