Para dar mais competitividade à indústria, governo anunciou
intenção de ampliar cortes no imposto de importação
A redução do Imposto de Importação sobre insumos utilizados pela
indústria de transformação anunciada pelo governo federal gera diferentes reações
nas entidades representativas dos setores mais afetados. A decisão, anunciada
pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, na semana passada, põe fim àquela
tomada em setembro do ano passado que elevava o tributo sobre 100 produtos
importados amplamente utilizados como matéria-prima pela indústria. Desta
forma, a partir de outubro deste ano, as alíquotas cairão de uma tarifa média
de 25% para algo em torno de 12% a 14%.
Ontem, o governo afirmou que pode reduzir o tributo para novos
insumos, em uma tentativa de dar mais competitividade à indústria ao baratear o
custo das empresas. Sem muito espaço para intervir na taxa de câmbio, que
pode provocar uma pressão inflacionária com a valorização sentida nos últimos
dias, o governo tem buscado outras saídas para mitigar o efeito cambial na
inflação.
A Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos
(Abimaq) afirma que a redução da alíquota terá um efeito positivo sobre o
desempenho da indústria nacional, contribuindo para a retomada da
competitividade. “A medida contribui para reduzir custos das matérias-primas
usadas pela indústria e faz com que os produtos nacionais tenham preços
competitivos no mercado interno e externo”, defende o diretor executivo de
Comércio Exterior da entidade, Klaus Curt.
Segundo ele, o aumento atingirá apenas 11 produtos dos cerca de
1.200 utilizados pela indústria de máquinas e equipamentos, logo, o reflexo
sobre aqueles que são abarcados pela entidade será muito pequeno. No entanto,
Curt garante que “a Abimaq se compromete a buscar uma solução para amparar os
fabricantes que sofrerão com a entrada de produtos importados mais baratos”.
A redução de alíquota também foi bem-recebida pela Associação
Brasileira da Indústria de Embalagens Plásticas Flexíveis (Abief), já que a
diminuição do preço do polietileno (principal insumo utilizado pelo segmento)
importado favorecerá a competição no mercado local. “Atualmente sofremos com a
falta de opção de compra. Talvez esta redução de alíquota não reflita em
diminuição do preço dos produtos, mas o fato de parar de crescer já será
positivo para a cadeia de clientes”, afirma o presidente da Abief, Sergio
Carneiro.
Ao não renovar a lista de exceção à Tarifa Externa Comum (TEC),
o governo federal diz buscar baratear os produtos e evitar a pressão sobre a
inflação, que atualmente opera próxima ao teto da meta de 6,5% fixada para
2013. Porém, a justificativa não é aceita por entidades como a Associação
Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) e a Associação Brasileira
de Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos (Assintecal), que
se mantêm contrárias à diminuição dos tributos que atingem insumos utilizados
pelo setor.
A Abicalçados demonstra preocupação com o aumento da importação
de calçados desmontados, principalmente os provenientes da China. Para o
presidente executivo da associação, Heitor Klein, o imposto de 25% era um
pleito dos calçadistas brasileiros para tentar barrar a importação de calçados
desmontados, que aumentou quase 50% depois da adoção da tarifa antidumping
contra o produto proveniente da China, em 2010. Mais do que temer os efeitos
econômicos da concorrência com componentes chineses, o presidente da
Assintecal, Marcelo Nicolau, destaca o perigo de frear a evolução tecnológica
verificada no setor nos últimos dois anos. “Depois que houve o aumento da
alíquota para importados, criamos um grupo de desenvolvimento de tecnologias no
setor de calçados esportivos. Agora não sabemos se teremos condições de tocar
adiante este projeto”, diz.
Roberta Mello
Jornal do Comércio RS